Arqueólogos encontram cemitérios indígena e colonial na Bahia

Uma importante descoberta arqueológica no município de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, está expondo aspectos culturais e históricos de povos que habitaram a região entre 10.000 e 2.000 anos atrás. Durante escavações realizadas desde abril de 2024, foram encontrados dois cemitérios sobrepostos: um cemitério cristão colonial, datado do período histórico, e, logo abaixo, um sambaqui, estrutura funerária indígena pré-colonial.

O projeto é parte de uma parceria entre a empresa Totem Arqueologia e a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER). As escavações foram realizadas como parte de uma intervenção arqueológica no Sítio Arqueológico da Igreja Matriz de Santiago do Iguape.

A coordenadora da iniciativa, Rosivânia Aquino, destacou a singularidade do achado. “Temos um cemitério cristão sobre uma construção indígena, o que revela um encontro de histórias e práticas funerárias de diferentes períodos”, afirma ela.

cabeça de boneco ou anjo encontrada em escavação
Fragmento de boneca (ou anjo) em porcelana escavado com uma criança do período colonial. (Imagem: acervo Totem Arqueologia)

Artefatos nos cemitérios revelam vida e crenças de épocas distintas

  • Junto aos restos mortais indígenas, foram encontrados objetos confeccionados com ossos e dentes de animais, que provavelmente tinham significados religiosos.
  • Já nos sepultamentos coloniais, os artefatos incluem crucifixos, contas de rosário e itens associados a crenças de matriz africana, como guias e figas, refletindo a diversidade cultural do período.
  • Uma descoberta emocionante foi a de uma boneca em porcelana encontrada em uma sepultura infantil, simbolizando o afeto dos familiares.
  • “Objetos como este, caros para a época, carregam um significado profundo e demonstram o amor dos pais pela criança enterrada”, explicou uma das responsáveis pela análise dos artefatos.

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Níveis arqueológicos do Sambaqui da Praça dos pescadores sob o cemitério cristão. (Imagem: acervo Totem Arqueologia)

Avanços científicos e impacto cultural

A descoberta tem sido fundamental para o avanço da pesquisa histórica e arqueológica na Bahia. Além de contribuir para o conhecimento sobre a vida cotidiana e as práticas funerárias, o material coletado está sendo utilizado em estudos mais amplos, incluindo análises genéticas. Uma parceria com um laboratório internacional permitirá identificar patógenos e traçar características genéticas das comunidades enterradas.

Por meio dos ossos e artefatos encontrados, foi possível identificar aspectos como doenças que afetaram a população, entre elas lepra e sífilis, e os desafios enfrentados em atividades como pesca e cultivo de cana-de-açúcar.

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