Bluesky e seu boom; saiba como rede social lida com sucesso meteórico

Em fevereiro de 2023, foi ao ar mais uma rede social: o Bluesky, que não recebeu tanto alarde como outras plataformas maiores, como Facebook, Threads, Twitter (atual X) e outros.

Contudo, passados quase dois anos de sua estreia, o Bluesky vem experimentando crescimento massivo e, talvez, até inesperado. No Brasil, a rede social explodiu em perfis criados graças ao bloqueio do X no País, que durou pouco mais de um mês. No período, a plataforma obteve mais de três milhões de novos usuários.

Ascensão meteórica do Bluesky

  • Na última semana, o Olhar Digital trouxe que a plataforma alcançou mais de 15 milhões de usuários, conforme as pessoas vão buscando alternativas ao Threads e X, especialmente;
  • No caso da rede social de Elon Musk, a procura aumentou após as polêmicas decisões tomadas pelo empresário, suas convicções políticas e a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos;
  • Hoje, já é o app gratuito mais baixado na App Store e Play Store;
  • Essa ascensão meteórica fez com que a empresa crescesse da noite para o dia, praticamente;
  • Segundo o The New York Times, os 20 funcionários que trabalham em tempo integral na companhia vêm trabalhando dia e noite para lidar com alguns problemas causados pelo crescimento meteórico, como:
    • Interrupções do aplicativo;
    • Falhas no código;
    • Problemas na moderação de conteúdo.
  • Mas, de um modo geral, eles tentam manter os primeiros usuários satisfeitos à medida que novos surgem.

Em maio deste ano, a CEO da plataforma, Jay Graber, e a COO, Rose Wang, concederam entrevista ao OD e explicaram como a rede social dá mais controle aos seus usuários do que outras redes.

O Bluesky começou quatro anos antes de seu lançamento, como um projeto do interno do Twitter. “Quando fui escolhida para liderá-lo em 2021, transformei-o em uma empresa separada”, contou Graber.

Inicialmente, o projeto foi financiado como uma bolsa do Twitter sob o comando de Jack Dorsey, um dos cofundadores do microblog. Só que, quando Musk comprou o Twitter e realizou corte de contratos externos, o Bluesky foi separado de sua empresa-mãe.

Para trabalhar de maneira solo e criar seu aplicativo, a então rede social bebê precisou levantar fundos, conseguindo US$ 23 milhões (R$ 132,22 milhões, na conversão direta) em duas rodadas de financiamento de risco realizadas com investidores privados.

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Rede Social começou como projeto do Twitter (Imagem: Primakov/Shutterstock)

Redes sociais descentralizadas

A empresa dirigida por Graber é uma rede social descentralizada, formato que promete mudar a maneira como interagimos online. Diferentemente das redes sociais tradicionais, onde uma única empresa controla todos os aspectos da experiência do usuário, as redes descentralizadas distribuem esse controle entre vários participantes.

“No Bluesky, queremos dar aos usuários a capacidade de controlar sua própria experiência”, explicou a CEO. “Isso significa que os usuários podem se inscrever em feeds personalizados, criados por diferentes pessoas. Por exemplo, se você quiser apenas ver fotos de gatos, pode escolher um feed específico para isso.”

Já outras redes, como Facebook e TikTok, são conhecidas como “jardins murados”, pois prendem seus usuários e dificultam sua migração, impedindo que o que eles postam nessas redes sejam republicados em outras plataformas.

Isso só mudou um pouco em março deste ano, pois a Meta flexibilizou o algoritmo do Threads, permitindo que seus usuários compartilhassem suas postagem em outras redes, como o Mastodon.

“Temos trabalhado para contar a história [das redes descentralizadas]”, afirmou Graber ao ser questionada sobre como comunicar essa nova tendência para os usuários.

“Há muitas analogias a serem feitas com formas anteriores de mídia, como um único canal de televisão versus muitos canais de televisão. Outra coisa é apenas mostrar aos usuários algo que foi construído que eles gostariam de usar por si mesmos. [Por exemplo], se você for realmente fã de Taylor Swift, podemos mostrar um exemplo de um feed de Taylor Swift que é completamente Taylor”, prosseguiu.

Wang acrescentou que as pessoas podem obter a experiência do grande mundo e do pequeno mundo em diferentes plataformas no Bluesky. “No Bluesky, você pode ir para o feed Descobrir e ver o que está acontecendo em todo o mundo, mas também pode ir para seus amigos de [tópicos de seu interesse] onde está realmente fazendo amizade com as pessoas porque elas se importam com a mesma coisa que você. E então, isso torna a internet divertida novamente”, disse.

Moderação de conteúdo

Um dos aspectos mais inovadores do Bluesky é sua abordagem à moderação e criação de conteúdo. Wang destacou que a rede permite que os próprios usuários e comunidades assumam o controle da moderação.

“Utilizando serviços de rotulagem abertos, os usuários podem criar filtros específicos para suas necessidades. Por exemplo, um usuário que deseja evitar ver aranhas em seu feed pode usar um serviço de rotulagem específico para isso”, explicou Wang.

Além disso, o Bluesky oferece base para moderação que apoia suas diretrizes da comunidade, mas permite que os usuários construam seus próprios serviços de moderação em cima. “Isso significa que a moderação pode ser muito específica da comunidade e nas mãos dos usuários para si mesmos e suas próprias comunidades”, acrescentou Graber.

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Jay Graber, CEO do Bluesky (Imagem: Bluesky)

E o crescimento acelerado?

Já em 2023, a rede social vinha em crescimento agressivo: de 40 mil usuários para 5,6 milhões. A COO diz que esse crescimento não se deve apenas à funcionalidade inovadora da plataforma, mas, também, ao “ambiente acolhedor e divertido” que o Bluesky proporciona. Ela destacou que a abordagem do Bluesky coloca o controle nas mãos dos usuários, o que tem atraído base diversificada e engajada.

Além disso, a empresa também tem focado em adaptar suas funcionalidades para atender às necessidades específicas de diferentes mercados globais. “Reconhecemos que cada região tem suas próprias necessidades e preferências em termos de uso de redes sociais. Por isso, estamos constantemente ajustando e melhorando nossos serviços para garantir que possamos oferecer a melhor experiência possível para todos os nossos usuários, independentemente de onde estejam”, explanou Wang.

Além disso, o Bluesky está investindo em infraestrutura e segurança para suportar seu rápido crescimento. Graber mencionou que medidas de segurança robustas, como a autenticação de dois fatores por e-mail, foram implementadas para proteger as contas dos usuários contra hackers. “Estamos comprometidos em fornecer um ambiente seguro e confiável para todos os nossos usuários”, afirmou Graber.

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Bluesky e o Brasil

O Brasil representa enorme contraste quando comparamos o Bluesky ao X. Enquanto a plataforma de Elon Musk entrou em rota de colisão com o governo e o Supremo Tribunal Federal (STF), mais especificamente com o ministro Alexandre de Moraes, seu concorrente vem ganhando cada vez mais simpatia dos brasileiros.

“Alguns dos nossos primeiros usuários foram brasileiros. Tivemos aumento de crescimento brasileiro nos últimos meses e estamos empolgados para receber mais brasileiros na rede agora. Criamos um feed de supercluster do Brasil que mostra apenas postagens de usuários brasileiros. Nossa missão é criar uma rede para conversa global que seja divertida e saudável, permitindo que todos personalizem sua experiência”, comentou a CEO da empresa.

Vale ressaltar que não foi só o bloqueio do X, que durou cerca de três semanas, que provocou um aumento de brasileiros no Bluesky. Outras questões que fizeram o X perder mercado mundo afora também vale para o Brasil: as atitudes de Musk com relação à plataforma, como cortes de pessoal, reativação de perfis ofensivos, restrição de conteúdos gratuitos e enfraquecimento da moderação de conteúdo.

Por sua vez, Wang mencionou que a comunidade brasileira teve um papel importante na introdução de GIFs na plataforma. “Lançamos GIFs há algumas semanas [em maio] e isso foi [um interesse] muito informado pelos brasileiros que vieram para o Bluesky. Avançamos isso no roteiro do produto porque nos importamos muito com os usuários brasileiros, que têm memes e GIFs muito engraçados que gostam de compartilhar.”

Graber ainda destacou a importância da base de usuários brasileiros para o Bluesky. “Os brasileiros são super sociais e adoram as mídias sociais. Alguns dos nossos primeiros usuários foram brasileiros e muitos deles se juntaram após o primeiro artigo do TechCrunch sobre nós. Recentemente, o presidente Lula se juntou à rede, o que aumentou ainda mais nosso crescimento no Brasil. A energia e a criatividade dos usuários brasileiros são uma força positiva para a cultura do Bluesky”, destacou.

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Rose Wang, COO do Bluesky, agradeceu brasileiros no perfil na plataforma (Imagem: Reprodução/Bluesky)

Futuro da rede social

Ao discutir a visão de longo prazo para o Bluesky, Graber destacou a importância de dar poder aos usuários. “Nosso objetivo é criar uma rede social que beneficie os usuários. Quando você tem uma empresa controlando tudo, inevitavelmente, ela agirá em seu próprio interesse. Colocar o poder mais diretamente nas áreas onde as pessoas podem controlá-lo por si mesmas lhes dá a capacidade de evoluir as coisas mais rapidamente”, explicou Graber.

O Bluesky diz estar comprometido em evoluir continuamente para atender às necessidades de seus usuários, permitindo que eles controlem seus dados e identidades.

Graber acrescentou que, a longo prazo, as redes sociais estão se movendo para modelo mais aberto e descentralizado. Wang complementou, dizendo que sua plataforma é um dos melhores lugares para os criadores investirem, pois eles possuem seus dados, seguidores e domínios. “Nunca podemos retirar os seguidores deles ou cortar seu acesso”, prosseguiu.

Desafios e estratégias

Com a crescente influência da inteligência artificial (IA), surgem novos desafios para a moderação de conteúdo e detecção de desinformação. “Utilizamos modelo híbrido, no qual nossa equipe de moderação centralizada faz parte do trabalho e desenvolvedores de terceiros e usuários também contribuem”, explicou Graber.

Ela mencionou que há um rotulador criado para pessoas que não querem ver arte gerada por IA no feed, permitindo que os usuários optem por ativar essa funcionalidade e evitar esse tipo de conteúdo.

Além da IA, o Bluesky está se preparando para lidar com questões de segurança em larga escala. Para receber líderes globais – algo que a rede comunicou estar pronta em abril deste ano –, Graber explicou que a empresa implementou várias medidas de segurança e moderação para garantir ambiente seguro e confiável.

“Adicionamos autenticação de dois fatores por e-mail para proteger contas contra hackers. Além disso, nosso chefe de confiança e segurança, Aaron Rodericks, que liderou a integridade eleitoral no Twitter, está garantindo que estamos prontos para moderar supressão de eleitores e desinformação eleitoral”, apontou a CEO.

Nos últimos dias, aponta o Times, alguns problemas se acumularam nos últimos dias. Na quinta-feira (14), o site chegou a ficar fora do ar algumas vezes. Graber afirmou que as falhas se deram, em parte, por problemas com um grande provedor de serviços de internet, que também afetou outros portais, entre outros bugs.

Além disso, novos usuários estão conflitando com os antigos, alegando que tais usuários são muito sérios, enquanto os que foram “acusados” se irritaram e disseram que os novatos precisam se adequar às normas sociais da plataforma.

“Toda vez que há grande fluxo de usuários em geral, todos esperam que seja como o último lugar de onde vieram. Eles querem que seja o novo Twitter ou algo assim, mesmo que não seja para ser”, disse Chris Vinson, 33, profissional de marketing digital de Evansville, Indiana (EUA), que usa o Bluesky desde seus primórdios.

Esse “choque cultural” foi definido pela CEO como o problema do “eterno setembro”, alusão a como universidades mudam sua população estudantil anualmente e uma nova classe de alunos se conectava à Usenet, rede social antiga, resultando em drásticas mudanças culturais.

O problema se tornou mais aparente ainda no início da década de 1990, na qual os provedores de internet começaram a canalizar milhões de pessoas para a Usenet, tornando a situação como elemento fixo de como as redes sociais de crescimento rápido operam.

Para solucionar a questão, o Bluesky adicionou recursos, como os feeds personalizados e criação de ferramentas automatizadas de moderação de conteúdo.

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Diferentemente de players rivais, Bluesky busca democratizar compartilhamento entre plataformas (Imagem: Koshiro K/Shutterstock)

Inovação

Segundo Graber, a rede social está constantemente inovando e adicionando novos recursos para melhorar a experiência do usuário. “Estamos trazendo funcionalidades, como mensagens diretas (DMs) e vídeo, que os usuários pedem há muito tempo. Queremos facilitar a criação de comunidades dentro do aplicativo, como a comunidade de Ciência, que cresceu em torno de feeds personalizados.”

Wang acrescentou que eles estão focados em crescer as comunidades na plataforma, tornando os espaços online divertidos e saudáveis novamente. “Este ano será sobre garantir que os usuários sintam que têm o que precisam no Bluesky.”

Graber mencionou ainda que a empresa está trabalhando para lançar esses novos recursos em breve. “Normalmente, não damos datas específicas porque elas podem mudar, mas algumas dessas funcionalidades estão chegando muito em breve e estamos muito empolgados com isso”, destacou.

Quer empreender no setor? Confira este conselho de Graber

Jay Graber concluiu com conselho para empreendedores que desejam entrar na área de redes sociais descentralizadas:

Acho que uma coisa que realmente tentamos fazer é prestar atenção ao que os usuários querem. Há um padrão comum, onde você tem que ser realmente inteligente sobre a tecnologia para construir algo bom, mas, às vezes, as pessoas se concentram demais na tecnologia e param de pensar nas pessoas e no que as pessoas realmente querem, em última análise.

Jay Graber, CEO do Bluesky, em entrevista ao Olhar Digital

Wang adicionou: “Encontrem pessoas com quem vocês gostam de trabalhar. A diversão e os valores compartilhados realmente aparecem na comunidade ao longo do tempo. Construir algo junto com pessoas que você admira torna a jornada muito mais gratificante.”

A COO lembrou que a equipe do Bluesky foi quem teve que começar a comunidade que se tornou a rede social. “[As pessoas de] nossa equipe foram os primeiros dez publicadores no aplicativo beta. O que eu diria para qualquer empreendedor é encontrar pessoas com quem você ama trabalhar. A diversão que vocês têm juntos, que têm os mesmos valores, realmente aparece em sua comunidade ao longo do tempo.”

Reação dos players mais velhos e experientes

Todas as inovações que a plataforma está trazendo fez com que seus rivais reagissem. Na semana passada, Adam Mosseri, chefe do Instagram, pontuou que o Threads recebeu 15 milhões de novos usuários (um Bluesky inteiro) na primeira metade deste mês.

O CEO da Meta, Mark Zuckerberg (que deu uma de cantor na semana passada), afirmou, na sexta-feira (15), em publicação no Threads, que a rede social está testando formas de permitir que seus usuários criem feeds personalizados, copiando um dos principais recursos de sua concorrente.

No mesmo dia, o Bluesky se pronunciou na plataforma, alegando que jamais utilizará as publicações de seus usuários em prol de treinamento de IA, algo comum nas redes de Meta, X e Google.

A expecattiva da empresa é que os desenvolvedores independentes construam em cima da tecnologia já existente na plataforma para torná-la ainda melhor, em contraste com Facebook e X, que têm relacionamento misto com sua comunidade de desenvolvedores.

Por sua vez, a CEO da companhia ressaltou que “o estado da maioria das plataformas sociais agora é que os usuários estão presos e os desenvolvedores estão bloqueados. Queremos construir algo que garanta que os usuários tenham a liberdade de se mover e os desenvolvedores tenham a liberdade de construir”.

Fundamentalmente, fizemos isso porque queremos construir um ecossistema no qual os desenvolvedores possam confiar e, se alguém tiver uma ideia para melhorar o estado das mídias sociais, eles não precisam nos pressionar para mudar as coisas. Eles podem simplesmente fazer isso sozinhos.

Jay Graber, CEO do Bluesky

Pessoa segurando iPhone com página do Bluesky na App Store aberta e, ao fundo, logomarca do X (antigo Twitter)
X vem perdendo usuários para o Bluesky após vários problemas envolvendo seu dono, Elon Musk (Imagem: LanKS/Shutterstock)

Debandada do X

Um dia após as eleições presidenciais dos EUA, mais de 116 mil contas do X foram desativadas. Esse foi o maior número de desativações desde que Musk assumiu a plataforma, segundo dados da Similarweb, que analisa o comportamento de sites. E esse número pode ser ainda maior, pois o portal não rastreia as desativações realizadas pelo app para Android e iOS.

Essa saída recorde de pessoas do X se deve não só ao fato de que Musk virou a empresa de cabeça para baixo, desagradando usuários, mas também por seus laços estreitos com Trump. Tanto que o bilionário garantiu um lugar no novo governo.

Outra empresa de Musk, a fabricante de veículos elétricos Tesla, enfrentou problemas similares, pois muitos donos de Teslas e interessados nos modelos da montadora optaram por EVs (veículos elétricos, na sigla em inglês) de outras marcas por conta da posição política e diversas falas do sul-africano.

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