“Migalhas” em rastros de cometas podem ajudar a evitar colisões com a Terra

Cometas de longo período (LPCs), que raramente passam pelo Sol, podem colidir com a Terra, mas um novo método de rastreamento pode nos ajudar a detectá-los. Um artigo disponível em versão de pré-impressão no repositório online arXiv, já aceito para publicação pelo periódico científico The Planetary Science Journal, recente sugere que os rastros de meteoroides deixados por esses cometas podem funcionar como “migalhas” que indicam seu caminho.

Alguns cometas visitam o Sistema Solar com certa regularidade – a cada 76 anos, no caso do famoso Halley, por exemplo. No entanto, outros, como o cometa A3 Tsuchinshan-ATLAS, são visitantes raros. 

Cometa C2023 A3 Tsuchinshan-ATLAS. Créditos: Gianni Tumino

Muitos desses objetos nascem nas regiões mais distantes do Sistema Solar e se aproximam do Sol em intervalos de 200 anos ou mais. Embora fascinantes para astrônomos, os LPCs representam um desafio para a defesa planetária. Estima-se que objetos desse tipo causem até 6% dos impactos na Terra, mas poucos dos que chegam a distâncias potencialmente perigosas foram detectados.

Dessa forma, esses cometas podem representar uma grande ameaça. Um objeto de aproximadamente um quilômetro de diâmetro, por exemplo, ao atingir a Terra com uma velocidade de 50 km/s, liberaria uma energia equivalente a 750 mil megatons de TNT. 

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Usando trilhas de meteoroides para detectar cometas de longo período

Para aumentar as chances de detectar esses corpos celestes, o estudo propõe observar as trilhas de meteoroides, que seguem as órbitas dos LPCs e permanecem relativamente estáveis ao longo do tempo, escapando de perturbações de planetas maiores.

Quando a Terra cruza essas trilhas, os meteoroides podem entrar na atmosfera, criando chuvas de meteoros. Com a análise dessas trilhas, é possível calcular a direção e a velocidade dos meteoroides, permitindo identificar a órbita do cometa progenitor. 

Chuva de meteoros registrada em Serra Nevada, EUA. Ao estudar chuvas de meteoros, os cientistas acreditam que podem ser capazes de identificar cometas potencialmente ameaçadores com anos de antecedência. Crédito: Apipattanamongkol – Shutterstock

Embora a maioria dos LPCs ainda seja fraca para ser vista pelos observatórios atuais, o instrumento LSST (sigla em inglês para Levantamento do Legado do Espaço e do Tempo) – maior câmera digital do mundo, instalada no Observatório Vera C. Rubin (que será inaugurado no ano que vem, no Chile) – deve identificar cometas anos antes que eles se tornem ameaças reais.

Para testar o método, pesquisadores analisaram 17 chuvas de meteoros associadas a LPCs conhecidos. Eles criaram cometas sintéticos e os colocaram em distâncias onde seriam visíveis pela LSST, comparando as posições dos cometas reais com esses modelos. 

De acordo com o site Space.com, os resultados foram promissores: a maioria dos cometas reais estava nas áreas previstas pelos modelos. Essa técnica permite identificar cometas potencialmente perigosos a bilhões de quilômetros de distância, com anos de antecipação.

O próximo passo é utilizar essa técnica para caçar LPCs “órfãos”, que deixaram trilhas de meteoroides mas cujos cometas progenitores ainda não foram encontrados. O método, no entanto, tem limitações e não identifica cometas com períodos orbitais acima de 4.000 anos, pois suas trilhas ficam muito dispersas para serem detectadas na Terra.

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